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PSICOLOGIA EM QUADRINHOS

Foto: Releitura do quadro O Grito de Edvard munch (por Ana Carvalho – 2014)

Um combatente do crime, vingador, vigilante, herói! Batman é tão complexo quanto contraditório! Explorar o personagem pode ser um teste revelador para o telespectador. Porque no Batman podemos achar o heroísmo, o medo e a escuridão de dentro da alma!
Da mente infantil do Bob Kane, Batman estreou na “Detective Comics” em 1939! Era a década da grande depressão, expansão urbana e crimes violentos. Desde então Batman vem sendo um ferrenho combatente do crime, mas no fim dos século 20, Batman abraçou um lado mais sombrio, mesquinho e realístico, enquanto escritores e diretores começaram a adicionar camadas de motivação psicológica.
É extremamente complexo compreender a personalidade desse herói tão fascinante. O Batman carrega consigo além de uma enorme carga de mistério que remete a um mundo sombrio, leva também sua maior motivação para um herói tão destemido, a busca pela justiça. E faz isso usando sua inteligência e dinheiro. O que mais impressiona e o fado de ele ser um homem absolutamente normal, sem mutação genética ou coisa do tipo.
O autocontrole e a autodisciplina são as qualidades que o distingue, pois não são compartilhadas pela maioria das pessoas. Tais qualidades fazem dele herói e o mais impressionante, herói sem superpoder. Ele não se permite perder o controle quando dá de cara aos seus piores desafios, e não se deixa levar por sentimentos de ódio e vingança. O seu método de justiça não lhe permite sujar as mão para exterminar o inimigo, por pior que ele seja e sim criar maneiras de captura-los e leva-los frente a justiça, fazendo com que sejam verdadeiramente acusados, processados e punidos pelos seus crimes.
No filme de 2005, uma das chaves para entender a mente de Batman, reside em uma emoção universal. Medo! Quando o jovem Bruce Wayne desenvolve um medo paralisante de morcegos. O medo é um dos fundamentos da psicologia infantil e aprender a lidar com o fato de que teremos medo, mas que teremos que fazer coisas para espanta-los. A historia do Batman mostra as escolhas de bem e mal, vida e morte e no caso de Bruce Wayne ele foi confrontado com a mais horrível tragédia que uma criança pode imaginar! A morte dos pais. Bruce Wayne é muito plausível psicologicamente. Se tem o momento crucial psicológico do Batman no tribunal onde o assassino de seus pais esta sendo julgado. Bruce tem uma arma no bolso e tem que decidir se irá usa-la ou não! Esse é o momento de definição do personagem. Quando pessoas passam por eventos traumáticos isso geralmente faz com que questionem as crenças fundamentais que elas possuem. E é assim que o trauma pode ser uma força poderosa e positiva que induz o amadurecimento. Muitas pessoas passam por traumas, conseguem superar e se tornam ativistas sociais de alguma forma. A levar Batman as telas de cinema o diretor Christopher Nolan encontrou um incomum paralelo psicológico numa figura histórica da vida real. O vigésimo sexto presidente dos EUA, Theodore Roosevelt. O pai de Roosevelt era o maior benfeitor e patrono de Nova York e era similar a Thomas Wayne que foi o grande filantropo de Gotham City. Como Bruce, Roosevelt passou por uma grande tragédia familiar ao perder sua mãe e esposa no mesmo dia. Ele foi ao Parque Nacional de Dakota provavelmente para se matar! E naquela situação forjou seu caráter, se tornando um comissário de policia insano, andando de bicicleta a noite pela cidade. 
No filme, Bruce escolhe assumir a aparência de um morcego, porque é a criatura que simboliza seu maior medo. O simbolismo de usar um morcego é conquista seu próprio medo. E tem uma técnica que as clinicas medicas usam para pessoas que tem medo que é chamada de exposição. Onde a ideia é aplicar uma exposição proposital aos elementos que o amedrontam. O filme retrata a exposição incrivelmente bem quando Bruce entra na caverna de morcegos para encara seu maior medo. De inicio ele ainda permanece com o medo, até que aos poucos se acalme e perceba que está tudo bem. Este é um exemplo maravilhoso de como as pessoas ficam com medo das coisas. E passam a deixar de ter medo delas.

(A própria fantasia de Batman, a roupa de morcego, possui uma simbologia que reside já no inconsciente coletivo popular invocando algo obscuro ou maligno. O morcego normalmente é associado à figuras demoníacas ou como a representação animal de tudo aquilo que é desconhecido, estranho, e portanto ligado a coisas ruins. Batman luta contra o mal vestido como um vilão)
- Karina, 2008, revista digital Inconsciente Coletivo

O assassinato de seus pais deu um propósito a vida de Bruce. Cada dia a psique de Bruce Wayne é dividida entre sua vida normal e sua identidade secreta o que levanta uma fascinante pergunta: Qual é a sua verdadeira identidade? Bruce Wayne ou Batman?
No inicio do século 20 o psicólogo suíço Carl Jung explorou a ligação entre a mente consciente e inconsciente. Jung acreditava que em todos nós uma luta acontecia entre um ser sociável e aceitável e algo que ele chamava de lado sombrio. Batman personifica o lado sombrio. Ele parece com o mal que combate. Como se fosse um vilão. Ele age fora a sociedade e apesar disso ainda é um homem virtuoso. Ele é a perfeita união dos dois lados que temos. O bem e o mal que coexistem na vida humana.
No filme Batman Begins a escolha de Bruce em assumir a identidade do morcego não só penetra nos medos infantis dele, mas no medo que a maioria das pessoas possuem sobre criaturas voadoras. O que Batman faz é pegar a iconografia do mal. Olhe pinturas medievais sobre demônios, eles geralmente tem chifres e asas de morcego. Em todas as culturas exceto a chinesa, os morcegos são símbolos do mal, do lao negro e a morte. Do diabo! E isso nos fascina. As pessoas sempre foram fascinadas pelo mal. Provavelmente porque é uma parte inerente de nós, Batman coloca isso em sua face. Na historia da humanidade há vários exemplos de pessoas que pegaram símbolos que eram negativos e até odiados e fazem uso deles. Na época do nazismo os homossexuais eram marcados e forçados a usar um triangulo rosa. Nas ultimas décadas o triangulo rosa tornou-se símbolo de libertação para eles. Bruce faz a mesma coisa, pega um símbolo que o aterroriza e o possui. Ele criou esse símbolo e esse símbolo tem um significado. Nunca pode mostrar fraqueza, e existe a luta entre o que é bom para o Bruce e o que é certo para o Batman. Essas duas coisas nem sempre são compatíveis. É claro que existem outros meios de canalizar raiva e perda, como a psicoterapia. E se o Batman fizesse terapia? E se o Bruce Wayne fizesse terapia? Talvez achassem a “cura” para o Batman. A realidade é que provavelmente o Batman é a verdadeira personalidade. E Bruce Wayne é a mascara. Qual é o verdadeiro homem? O morcego ou o Bruce Wayne? Desde o começo da era dos super-heróis muitos psicólogos têm falado sobre os múltiplos papeis que temos em nossas vidas diárias. Tem a identidade que temos com nossas esposas, a que temos com nossos colegas de trabalho abaixo de nós, e com os colegas e trabalho acima de nós. Em Batman temos o bilionário playboy, que muitos diriam que não é a real pessoa, temos Bruce Waye quando não está agindo como o playboy e temos o Bruce quando usa o uniforme do Batman. Eles possuem a mesma personalidade central.
Ocasionalmente os críticos de Batman o acusam de sofrer de complexo de herói e uma compulsiva obcessão de ajudar pessoas e fazer justiça como definido pelo psicólogo Carl Jung.
Embora o Batman reconheça a linha que divide a justiça da injustiça, outras criaturas da noite de Gotham não tem tal distinção. E esses habitantes das trevas sempre cometem atos de maldade indescritível! Nos anais da historia dos super-herois os inimigos do Batman são os mais feridos psicologicamente. Uma definição viva da disfunção! Seus feitos viciosos muitas vezes lembram os atos violentos e perversos dos criminosos reais. Demonstrando tudo, desde a patologia psicológica até o narcisismo.
Um dos vilões, merecedor de destaque é o personagem Duas Caras, que inicialmente se tratava de um bom moço, de boa índole, que após uma tragédia pessoal muda totalmente de personalidade, passando a apresentar personalidade distorcida, agora ao invés de bom moço, entra em cena um inimigo bipolar que se deixa levar pela vingança e perde o controle de si mesmo, passando a tomar decisões na sorte.
                Mas o inimigo mais mortal do Cavaleiro das Trevas é talvez o mais difícil de se enfrentar. Um acidente químico mudou não só a aparência do Coringa, mas também arruinou sua mente, fazendo com passasse a praticar atos perversos sem razão alguma. A maioria dos criminosos é motivada pelo desejo de ficar rico ou ganhar grande poder. Para terem algum tipo de vingança como uma motivação clara e que seria compreensível, o que é comum ao seu comportamento. No caso de alguém que tem doença mental você não pode prever exatamente o que farão porque sua motivação não é a mesma das demais pessoas. Acredito que o Coringa é a resposta lógica para um personagem como Batman, provavelmente porque Batman trouxe esse tipo de comportamento extremista para Gotham. Ele coloca uma máscara e interfere no medo das pessoas com toda a tecnologia que ele possui. Eles são reflexos sombrios um para o outro, ambos agem à margem das normas da sociedade, ambos são talentosos e capazes no que fazem, então tem muito em comum. Cada positivo tem seu negativo, cada Ying tem seu Yang. Batman é são e lógico e usa a mente para resolver problemas e crimes e o Coringa é um completo insano, lunático. Batman diz filosoficamente que podemos aceitar e viver em um mundo imperfeito, que podemos aceitar fugir das normas sociais, mas isso não significa que essas normas sejam sem sentido. O Coringa diz que a presença de injustiça aleatória, significa que não existe justiça. O fato que inocentes possam ser destruídos significa que não há inocentes, então sua vida é uma piada. Agora se alguém dissesse que sua via é uma piada seria um desafio, não só um desafio físico, mas um desafio moral e intelectual. E Batman não permite isso, pois o Coringa não é só uma ameaça física e sim uma ameaça a premissa da existência do Batman! Nos quadrinhos existe uma violência física é claro, mas também existe um conflito filosófico extremo, de difícil solução.
                Qualquer que seja a causa psicológica de personagens como o Coringa os vilões do Batman nos deram imagens constantes do poder da mente humana e sua capacidade para a crueldade. Todos temos a capacidade de fazer o mal, mas também todos temos a capacidade para fazer o bem! 


Por: Victor Iuri de Carvalho


Referência:
- MACHADO, Vinícius. Batman vs Coringa: provocações nietzscheanas acerca da moral. Faculdade Paulo VI, Mogi das Cruzes, São Paulo. E-mail: vinicius.robin@gmail.com http://monografias.brasilescola.com/filosofia/batman-vs-coringa-provocacoes-nitzscheanas-acerca-moral.htm#capitulo_6 – Pesquisado em 24/05/2014


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